A Porta



A porta do quarto foi fechada assim como a única janela que trazia luz àquele cômodo tão familiar. A culpa transbordava nos olhos da menina e escorria pelas maças pálidas de seu rosto.
“Eu tenho que contar”.
A garota se remexia na cama, apertava o travesseiro contra o peito com tanta força a ponto de doer-lhe as costelas. No ouvido, um zumbido ensurdecedor, eram os anjos insistindo em atormentá-la.
Pôs os pés no chão e tateou o piso frio até que encontrou seu chinelo. Sentou-se na borda do colchão e balançou-se para frente e depois para trás, como uma criança nos braços cuidadosos da mãe.
Inspirou forte tragando todo o ar que pôde, levantou-se meio cambaleante e relutante, abriu a porta e espiou o corredor. Vazio.
Andou até o quarto dos pais. A imponente porta encontrava-se fechada. A menina, que agora, sentia-se criança, procurou a maçaneta; esta se encontrava tão distante, tão alta. Fora a garota que diminuíra ou fora a porta que crescera?
Sendo incapaz de rodar o pequeno objeto metálico, encostou o rosto na porta e bateu com uma força um pouco maior do que a suficiente para ser ouvida.
A gigantesca barreira de madeira afastou-se da garota que imediatamente olhou para o alto.
- Mãe? Preciso falar com vocês!
A pequena mulher afastou-se da filha e voltou a se deitar na cama ao lado do marido.
A menina arrastou-se até perto da cama, pondo-se em frente à TV ligada em algum programa monótono.
Só o aparelho foi ouvido, pois a garota sussurrava palavras que nem ela podia ouvir.
Os dedos dormentes beliscavam-lhe a cintura encorajando-a a falar, mas a boca seca emudeceu e dela só se pode ouvir um suspiro de derrota.


0 comentários:

Postar um comentário


up